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Sindrome do Não-Estar

Apresento-lhes uma sindrome complexa, incurável, que aflinge a diversas pessoas ao redor do mundo. O sofredor desse mal não sabe que dele sofre, apenas "sente". Sente dor, saudade, angústia por um lugar, tempo ou espaço em que ele não está. A dor é leve, a saudade grande, e a angústia é progressiva. Não-Estar é o mesmo que se deixar passar em branco, pode-se estar bem em um lugar e ao mesmo tempo sentir vontade de estar em outro lugar, um beco de uma cidade onde ninguém passa. Será que quando ninguém passa pelo beco está acontecendo alguma coisa? Quantas coisas estão acontecendo nas entranhas de uma floresta fechada enquanto estamos conversando coisas fúteis? A normalidade da vida, simples, corriqueira, agonia que toma aos poucos, (o que estará se passando no meu quarto agora?). Mário Quintana já sofria desse mal, e o transcreveu no poema "O mapa" observe o trecho transcrito:

"Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo…

(E nem que fosse o meu corpo!)
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei…

Ha tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Ha tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E ha uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei…) (…)"

A sindrome do não estar é atemporal, ou seja, você pode sentir falta de algum lugar que poderia ter estado, nesse caso, a angústia não é tão grande porque você não pode fazer mais nada para estar naquele lugar, mais o pior é quando sentimos (falo na primeira pessoa como sofredor do mal) falta de outro lugar que provavelmente nos agradaria, esta é a pior das dores, a agonia é tão grande que a cura só vem com uma presença acolhedora que nos preencha o vazio da alma.
Mais é sempre preciso caminhar, a angústia da espera resulta na felicidade do encontro, se não podemos estar em corpo, estejamos em espírito, sentir o que se passa em outro lugar, imaginar… fluir…
Somos escravos de nossa própria mente, liberá-la para viajar por outros lugares é como a abolição dessa escravidão.

O caminho que sempre caminho.

Das coisas que mais me apetecem a alma, é o caminho mais longo que mais me alimenta o espírito. Dos restos do sapato que me restaram, na estrada quente que machuca os pés, o refresco da sombra são as coincidências da vida, aqueles pequenos momentos que não esperamos mais que aconteçam, e se longo estava o caminho, ja toma dimensões de proporções não tão imagináveis, porque caminhar agora não é tão dificil. Se o peso está mais leve, a alma é pura e o ar enche com saciedade os pulmões.
Refletir nesse momento é óbvio, pois as coisas que mais nos atormentavam vem à cabeça e o medo de um "dejavu" inesperado torna o meio mais frágil. Eu não quero mais que os sentimentos que já passaram atormentem a calma do ambiente, é como quando saimos de um sonho bom, e ficamos de olhos fechados esperando que ele volte… triste ilusão da alma… já estamos acordados… o sonho ficou para trás, lembramos então que a estrada ainda é longa para percorrer, e o sol ainda reluz forte no céu. A melancolia de repetir a mesma coisa é a nossa rotina do dia-a-dia, quilômetro a quilômetro, a mesma paisagem, a mesma impressão de buscarmos os mesmos instintos para sobreviver. Então caminhamos cada vez para mais longe, e o longe nos parece mais perto, porque as vezes é mais facil caminhar.
Do trajeto que ficou para trás, resta nostalgia, resta mágoa, e sobra as cicatrizes dos tombos que levamos. Das pessoas que nos acompanharam em pequenos trechos, levamos lembrança dos momentos que estiveram juntos de alguns, e aprendizado de outros, dos primeiros se esquecemos aos poucos, e quanto mais distante na estrada, mais fraca a lembrança desses nos é à memória, quanto aos que nos deram aprendizado carregaremos o legado desses para sempre, porque esse já é parte de nós. Imaginamos sempre o fim do caminho, sem nunca saber no entanto onde ele irá terminar. Se no final estaremos cansados, ou se a água nos faltará no meio quando ainda poderíamos ter força para caminhar. Caminhar… sempre caminhar…

Sonhos….

Eu acredito que enquanto alguns sonhos não servem para

absolutamente nada, existem outros que servem para

enxergarmos alguma coisa que fizemos, ou estamos

fazendo errado. Quando isso acontece as mensagens não

são definidas, e cabe a nós decifrá-las e idenficar

cada ponto que ela converge com a nossa vida.

A maioria das pessoas ignora esse tipo de sonho.. e

apenas acredita que seja um pesadelo ruim, até porque

a maioria dos sonhos esquecemos minutos (ou segundos)

depois que acordamos, portanto vale a pena parar para

refletir sobre ele assim que se acorda, porque assim

fixamos ele em nosso pensamento mais facilmente e

podemos então analisá-lo.

Esse sonho que vou descrever tive essa noite, e embora

pareça bastante desconexo e assustador (e realmente

foi). Pude tirar muitas conclusões sobre ele… essas

conclusões não vou citar aqui porque não conveem, elas

pertencem exclusivamente a mim.

"Parta-se do princípio que eu vendi minha alma ao

demônio, pode-se parecer assustador, mais foi isso que

aconteceu. Pra falar a verdade eu nem sei bem se foi

eu que vendi, porque as vezes fazemos escolhas tão

inconscientemente que nem sabemos que foi uma escolha

e que você teve mais alternativas para fazer certa

coisa. O demônio me aparecia como uma consciência que

me incitava a fazer as coisas e dirigia o meu caminho.

Na verdade ele parecia não se importunar de perder a

minha alma, porque ele me dava informações de como eu

conseguiria resgatá-la novamente, mais isso dependeria

tão somente de mim. Eu teria que conseguir terra, uma

planta e adubo, no entanto isso deveria ter que ser

tirado de lugares específicos. Para buscar a planta eu

tive que atravessar uma favela, enquanto passava por

ruas escuras observava o olhar de pessoas curiosas me

julgando, me acompanhando cada passo que eu dava, como

se aquelas pessoas soubessem o que eu iria fazer, e o

motivo daquilo, e isso fosse uma coisa vergonhosa. Ao

me deparar numa esquina um negro me observou com um

olhar de raiva, como se eu houvesse lhe incomodado,

invadido o seu espaço. Apressei meu passo e ele me

seguiu, tive muito ódio, pois o assunto não era de sua

conta. O demônio então me advertiu que como eu havia

lhe dado sua alma, qualquer pessoa que eu tocasse e

sentisse ódio dessa pessoa, essa morreria. Tive

vontade que o negro não me seguisse, e também senti

raiva, no entanto, procurei andar mais rápido e chegar

logo ao meu destino. A rua que agora descia de modo

ingrime terminava em uma rua sem saída e do lado

direito havia uma grande entrada do que parecia ser um

estádio de futebol, estava deteriorada, e 2 bandeiras

rasgadas tremulavam, mais eu nao consegui enxergar ao

certo que bandeiras eram. Me apressei a pegar a planta

que estava num canto enterrado. Nesse momento invadiu

o estádio um carro com as luzes acesas que me

incomodaram, quando ele parou percebi que havia um

amigo meu, e mais duas garotas muito bonitas, uma

loira e uma morena. Esse meu amigo me ofereceu carona

para conseguir a terra que eu necessitava, a qual

aceitei de bom gosto. Ele sentou no banco de trás com

a morena e permaneceu em silêncio. A loira se dirigiu

ao volante e eu sentei ao seu lado. Nos afastamos da

cidade em direção ao campo. É incrível como aquela

moça conseguiu me consquistar, parecia que ela sabia

tudo o que eu queria escutar, e tinha o jeito de

alguém que eu sempre esperei encontrar. Confesso que

com seu jeito ela conquistou a minha confiança, e

continuamos viajando, depois de muitos e muitos

quilômetros rodando na escuridão, houve um momento que

quase adormeci, a estrada era monótona apenas

vegetação em ambos os lados, e a estrada também seguia

somente reto, não havia curvas. Quando estava quase

adormecendo olhei para o lado e vi que a loira olhou

pra mim, então ela largou o volante e distanciou seus

pés dos pedais. O carro então começou a sair da

estrada, e eu me desesperei, no entanto os outros que

estavam no carro manteram a calma, como se já

esperassem que aquilo fosse acontecer e só eu não

sabia. Segurei o volante e apertei forte o freio,

então o carro já fora da estrada parou. Eu perguntei

repentinamente assustado para ela o que aconteceu ela

me respondeu que não sabia dirigir. Olhei para o rosto

do meu amigo, e ele só parecia ser um cumplíce de tudo

o que estava acontecendo, abraçou a morena que estava

do seu lado e continuou em silêncio. Desci do carro

nervoso e me afastei do carro, caminhando em direção à

escuridão. Caminhei com pressa e orvalho já molhava

naquele momento. Se não há sentimentos em sonhos então

esse não era sonho, porque eu senti MUITO frio.

Parecia que por mais que eu andasse nunca chegava a

lugar nenhum, caminhei muito e o silêncio era mortal,

nem o diabo que falava na minha cabeça se pronunciava,

era só silêncio…

Nesse momento acordei…

Estava nadando em uma piscina quente, o sol

parcialmente ofuscado por nuvens fazia o tempo parecer

estranho, enquanto um homem estava sentado de costas

em uma cadeira. Então contei para ele tudo o que havia

acontecido comigo, ele me ouviu com atenção.

Depois descobri que eu estava contando toda aquela

história para o diabo, que apenas me escutava em

silêncio."

Ae eu acordei novamente, dessa vez de verdade.

Não me pergunte se eu consegui salvar minha alma,

talvez eu ainda não tenha morrido, e por isso essa

história não tenha terminado. Talvez todos nós

tenhamos vendido nossas almas e estamos buscando

coisas inúteis que nem tenham significado para nós,

mais que alguém nos sujeitou a fazer isso. Passamos

por julgamentos e temos que abaixar a cabeça, e somos

supreendidos por pessoas em que confiavamos. Mais a

estrada escura em que seguimos… na verdade sempre

seguimos sozinhos…